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sábado, 30 de abril de 2011

Homem!! Ou dança, ou dança.

Motivos muito justos que fazem uma mulher preferir os homens dançarinos aos homens lagartixas

Quanto vale um homem? Sejamos específicos: quanto vale um homem para uma mulher? Por mais fadinhas que desejemos parecer, temos um chip velocíssimo programado em nossas mentes pervertidas que nos dá de maneira clara e rápida a pontuação de um homem – o seu score. No chip estão embutidos os interesses materialistas, espirituais e, claro, o instinto animal que domina uma mulher em situação de escolha.

Um homem com uma profissão interessante faz a balança pender muito a seu favor. Aqueles com ar selvagem ou desprotegido, idem. Um sujeito que faça rir também tem pontuação alta. Agora, suponha que o moço não seja especificamente nada disso e mesmo assim esteja sempre acompanhado de mulheres. Ou melhor, as mulheres o disputam a tapas. Só há uma resposta para o caso: ele sabe dançar. E bem.

Em um salão de dança, quanto mais leve, mais enlevado pelos embalos da música, de si mesmo e da parceira, mais tilintam as luzinhas de um pinball ao redor do rapaz, dando-lhe créditos e mais créditos entre as damas que o assistem. Tenha as costeletas do Jerry Adriani ou unhas esmaltadas e de comprimento inaceitável, ainda assim será ele o protagonista a roubar os olhares de todas as mulheres do salão. Ao menos naquela noite e naquele lugar – o que não deixa de ser uma esperança para que isso continue no dia seguinte. Nessa circunstância, a mulher vê aquele homem girando alegremente pelo salão com uma felizarda e (babando de inveja) pensa: "Minha vida com ele seria uma festa para sempre".

É mais ou menos isso, conscientemente falando. Sabemos que o produto (um bom dançarino) é raro – e, portanto, o disputamos a unhadas. Quando uma mulher que gosta de dançar descobre um homem dançarino, divulga o achado com entusiasmo, mas parcimônia. Como se fosse um grande endereço de ponta de estoque de Nova York: só de amiga para amiga. Se for muito chapa, a descobridora promete "emprestá-lo um pouquinho" na primeira oportunidade, mantendo, porém, a preferência.

Eu pergunto: que homem não gostaria de ser citado assim em uma roda feminina? No entanto as mulheres vivem uma situação de fome etíope nos salões de baile. Não se sabe por que, mas, talvez respeitando a mesma lei incongruente segundo a qual há cada vez mais homens sem cabelos e mais mulheres com celulite; há cada vez menos cavalheiros capazes de bailar com charme e método. O que só dispara no mercado o valor dos que tiram uma mulher para dançar e – surpresa! – dançam. Juntos. Dançar separado é moleza, basta tomar um uísque e acreditar que um terremoto está acontecendo. Rebolar em um salão apenas tocando os olhares e sorrisos também tem sua graça, mas não é o caso aqui. Estamos falando do profissional que se programa para bailar. E que, para tanto, põe uma gravata bonita, usa seu melhor perfume e se enche de desodorante porque sua diversão na noite é tirar mulheres para dançar.

Trata-se do galanteador do linóleo. Ele oferece o melhor de si a todas e nem sempre fica com uma em particular (seria linchado, provavelmente). Ele é especialista no cheek to cheek, seja no quadradinho, no forró, na polca, no bolero, nos standards americanos ou no samba. Irresistível.

Se isso é tão fulminante na tática da conquista, nós mulheres perguntamos por que homens sempre tão espertos não se mancam e aprendem a se virar bem em um salão? O fato é que eles se acomodaram. È compreensível. Não precisam mais saber a diferença entre uma rumba e uma salsa para fazer a corte ou para sentir de perto a tez de uma mulher, como no passado. Preferem impressionar sua dama falando do carburador de seu carro importado (valha-me, senhor!), ou discorrendo sobre a bela safra de vinhos frutados que conseguiu arrematar em sua última viagem a Borgonha (zzzzzz! ..). Ora, ora, senhores, acreditem: apresentar-se a uma mulher com uma contradança inspirada, sem a menor conversa mole, pode mudar o rumo da sua vida e jogar para escanteio muitos candidatos mais bem apessoados e mais ricos que você.


Intimidade

Por quê? Simples: homens dançarinos são vistos como pessoas divertidas, alegres, desinibidas e leves em relação à vida. Isso inclui até os que dançam mal. A dança, afinal, é uma celebração à alegria e abre as portas para todos os que não se levam muito a sério. Homens que dançam (bem ou mal) não estão nem aí para o que os outros pensam dele. Mas estão super aí para relaxar e aproveitar a vida.

Não há nada pior para uma mulher feliz em um fundo musical saltitante do que um parceiro exercendo seu papel de homem lagartixa, grudado à parede totalmente imobilizado pelo terror, acreditando piamente que todos na pista estão olhando para ele. Homens que dançam sabem rir de si mesmos – e esta é uma virtude rara entre seres humanos. Não ficam amuados em um canto, enquanto a sua mulher, transbordando de energia, rumina a possibilidade de pedir divórcio ali mesmo, rápido bastante para não perder a próxima seleção de boleros.

Minha análise sobre a paixão de mulheres (incluindo as que não sabem ou gostam de dançar) por parceiros pés-de-valsa vai além. Primeiro, que dançar bem é um talento como tocar guitarra ou cantar. Toda mulher se impressionada com talentos. Segundo, e mais importante, é que um homem na pista está mostrando muito de sua intimidade. Alguém aí pensou em sexo? Pensou certo. Mas não o sexo explícito, cego, imediato. Não. Uma espécie de aperitivo do sexo: a conquista, o ritual da corte.

Assim como no sexo, a dança exige que o macho tome a iniciativa e conduza – e aqui peço que as feministas se danem! Há os que conduzem bem, segurando a cintura da parceira com vigor, mas mantendo a leveza nos quadris e pés, de maneira que ela se entregue espontaneamente aos seus desejos. Estes, guiam os pezinhos femininos com graça, leveza, ritmo e inventividade. Giram, vão e voltam, fazendo piada de sua natural capacidade de interpretar o sincopado da música. Oferecem, enfim, sua mão como apoio e ingresso a uma delícia que, como sexo, é simples, barata e perfeita a dois. Quem resiste? Se em algum recôndito da mente feminina há a relação entre o empenho e a eficácia com que um homem dança e seu desempenho sexual, não se sabe, mas, que pode gerar fantasias e preanunciar grandes momentos, não há dúvidas.

Um casal dançando é uma das poucas coisas civilizadas que sobreviveram à sociedade de consumo. Torna homens e mulheres seres cordiais e educados. Para ser o rei da noite é preciso respeitar alguns critérios e manter a classe. Homens que entendem de dança jamais deixam a mão cair da cintura para a remota zona entre os rins e as nádegas. Jamais. Jamais dizem uma obscenidade ao pé do ouvido da dama. Homens que dançam bem, como manda o figurino, são vistos como cavalheiros. Lembro-me da história de um conhecido em um baile de formatura. Relutou em sair dançando. Ficou horas bebericando um cuba libre em um canto, analisando a felizarda que o teria na primeira dança da noite. Passou longo tempo trocando olhares com uma moça engraçadinha sentada na mesa em frente e, enfim, partiu para o ataque. Chegou, convidou-a educadamente, e quando ela se levantou da cadeira e saiu de trás da mesa ... era anã. Lembro-me do rosto dele partindo, em um segundo, do espanto para o pânico e, enfim, para a compostura, segurando a mãozinha dela e curvando as costas até dobrar-se em dois Seguiram firmes na busca do prazer com New York New York ao fundo. Esse moço corajoso nunca mais me saiu da cabeça. E, certamente, nem da cabeça da moça pequienininha.

Fonte: Por Maríella Lazaretti (Revista VIP Exame, junho 1997)


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